O Som Das Muitas Águas
Wilma Rejane
“E não aparecendo havia muitos dias, nem sol nem estrelas, e caindo sobre nós, não pequena tempestade, fugiu-nos toda esperança de nos salvar” Atos 27:20.
De Cesareia até Roma, esse era o percurso da viagem marítima que levaria apóstolo Paulo diante do imperador César. Preso, acusado de sedição e profanação, Paulo entra no navio sob os cuidados de um centurião, ele e mais alguns prisioneiros. Entre Cesareia e Roma acontece uma grande tempestade a qual Lucas, companheiro de viagem de Paulo, narra em cada pormenor. Momentos de desespero, dúvidas e sofrimento. Atos 27 e 28 é uma ministração eficaz sobre: tempo de adversidade. Deus nos ensina sobre vida e fé, ao som da tempestade.
Na Bíblia existem vários relatos sobre tempestades e podemos compará-los a circunstâncias da vida. Algumas vezes, nos lançamos sobre a tempestade, mesmo sabendo que poderemos morrer em naufrágio, esse é o preço da desobediência a Deus. Outras vezes, somos alcançados por tempestades, contra nossa vontade, sem culpa. Paulo queria chegar a Roma, mas depois de algumas horas de viagem percebeu que a melhor opção, seria parar o navio, aguardar o bom tempo, pois os ventos contrários já sopravam sobre a embarcação.
A tripulação precisava decidir, o comandante precisava decidir: ouvir a orientação de Paulo sobre não prosseguir ou prosseguir ignorando a direção do vento. E eles escolhem não acreditar no prisioneiro Paulo, não reconhecem a voz de Deus . E aqui, bem no começo da viagem, já temos uma lição na tempestade: a de que o embarque em situações perigosas, pode acontecer por confiança na capacidade humana e distanciamento de Deus: “Mas o centurião cria mais no piloto e no mestre, do que no que dizia Paulo.” Atos 27:11.
Aprendemos que a tempestade pode enviar seus avisos, o vento frio e contrário, sopra em nossa face antes mesmo da escuridão, do desaparecimento do sol e das estrelas. Não seria o momento de se fazer uma pausa, de aportar em um lugar silencioso buscando ouvir Deus? Aqui implica renunciar a vontade humana, a conselhos de pessoas que mesmo tendo experiências em ‘tempestades’, não têm comunhão com Deus, nem temem desagradá-Lo (este exemplo serve de paralelo entre Paulo x comandante do navio).
O Euro- aquilão
A próxima fase dessa viagem é a chegada de um temporal chamado de Euro- aquilão: o encontro de duas correntes contrárias, o euro (vento leste) e o áquilo (vento norte). Lucas descreve a reação da tripulação nesse momento: “E, sendo o navio arrebatado, e não podendo navegar contra o vento, dando de mão a tudo, nos deixamos ir à toa.”Atos 27:15. A situação já não suportava nenhuma manobra, estava absolutamente fora de controle e só restava “se deixar levar”.
Não ouvir a indicação Divina através de Paulo, foi a pior decisão. Estamos sempre entre escolhas e a melhor delas é aquela que está de acordo com a Palavra de Deus. Como saber a decisão certa? Existe em nós um “termômetro” chamado de consciência, ela é o reflexo de nossa situação espiritual: em paz com Deus, escolhas corretas. Fugindo de Deus, escolhas erradas. Quando Adão pecou no Éden, soube que desobedeceu a Deus, sua consciência acusou e ele se escondeu: deixou de orar, de adorar, de sentir paz de espírito. Tudo isso pode vir sobre nós, como tempestade, por não ouvir Deus (aconteceu com Jonas) e nessas circunstâncias se fica a deriva, pois não há socorro algum que possa se equiparar ao de Deus.
O comportamento da tripulação diante do euroaquilão, indica que forças humanas são insuficientes para proporcionarem livramentos. Deus dá a prova e com ela, o escape, mas sem Deus no navio, esse escape se torna penoso, tão sofrido que só resta se entregar as circunstâncias até que o navio aporte em um lugar qualquer, inteiro ou despedaçado.
Força humana, direção Divina
“E ao terceiro dia nós mesmos, com as nossas próprias mãos, lançamos ao mar a armação do navio. E, não aparecendo, havia já muitos dias, nem sol nem estrelas, e caindo sobre nós uma não pequena tempestade, fugiu-nos toda a esperança de nos salvarmos.”
Paulo lhes diz: “vos admoesto a que tenhais bom ânimo, porque não se perderá a vida de nenhum de vós, mas somente o navio. Porque esta mesma noite o anjo de Deus, de quem eu sou, e a quem sirvo, esteve comigo,Dizendo: Paulo, não temas; importa que sejas apresentado a César, e eis que Deus te deu todos quantos navegam contigo.” Atos 27:19-25
Enquanto os marinheiros manobravam com as próprias mãos, Paulo orava, pondo sua confiança e esperança em Deus. Paulo pagava o preço de uma vida de santidade para vencer e estar em paz nos dias da adversidade. Ele foi conduzido a tempestade, mas as circunstâncias não eram maiores que ele, do que o Deus que servia. O barulho, a escuridão, o frio, os açoites, nada disso era capaz de derrotar o homem de Deus que em meio a todo terror, se levantou com voz profética para dizer aos 276 tripulantes: “não temam, tenham bom ânimo, Deus cuidará de vós”. Deus livra seus filhos na tempestade, aleluia!
Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes. Efésios 6:13
E as aparências enganam…
“E, quando chegou a décima quarta noite, sendo impelidos de um e outro lado no mar Adriático, lá pela meia-noite suspeitaram os marinheiros que estavam próximos de alguma terra.E, lançando o prumo, acharam vinte braças; e, passando um pouco mais adiante, tornando a lançar o prumo, acharam quinze braças. E, temendo ir dar em alguns rochedos, lançaram da popa quatro âncoras, desejando que viesse o dia. Procurando, porém, os marinheiros fugir do navio, e tendo já deitado o batel ao mar, como que querendo lançar as âncoras pela proa.
Disse Paulo ao centurião e aos soldados: Se estes não ficarem no navio, não podereis salvar-vos.Então os soldados cortaram os cabos do batel, e o deixaram cair.” Atos 27:27-32
Nesses versos, mais uma vez vemos os marinheiros agindo sob compulsão, de forma precipitada, por suspeitarem que estavam próximos da terra, eles desejavam que o dia chegasse e de forma tranquila, segura. Porém, estavam enganados e perdidos. O caminho mais fácil e rápido, é o do naufrágio, a porta larga pode parecer segura e tranquila, afinal não exige esforços espirituais, renúncia ao pecado, mas não é a melhor escolha. Paulo intervém sobre o agir dos marinheiros para impedir que o pior aconteça.
O navio ancora em um lugar de forte correnteza e a popa abre-se sob a força das ondas. Os soldados mais uma vez, agindo sob emoção e força das circunstâncias pensam em matar os prisioneiros. O centurião que cuidava de Paulo não concorda e pede que se lancem ao mar em nado até chegarem a terra, que seria a ilha de malta: “E eles chegam agarrados em tábuas e outros em coisas do navio. E assim aconteceu que todos chegaram à terra a salvo.” Atos 27:44
A bonança…
Amados leitores, essa fantástica passagem do livro de Atos, sobre a tempestade vivida por Paulo, nos mostra claramente o comportamento dos que vivem distantes de Deus e daqueles que são filhos de Deus diante das tempestades da vida. Paulo foi um diferencial naquele navio, alguém que impediu a morte em massa da tripulação. Ele não pode acalmar os ventos, andar sobre as águas ou alguma coisa do tipo, mas através do seu testemunho, de uma vida consagrada e de oração, ele foi o consolo, o conforto e a direção na angústia. Porque a Palavra de Deus estava em seus lábios e coração. Enquanto todos se desesperavam com a tempestade, pensando até em homicídio, Paulo e Lucas descansavam em Deus, em constante oração e paz interior. E esse testemunho, certamente alcançou alguns da tripulação.
Ao fim da tempestade, toda tripulação de 276 pessoas, aporta na ilha de Malta. Lá Paulo enxota uma víbora venenosa de sua mão, cura a muitos e consegue o respeito e a confiança dos moradores. Depois disso, seguem em um navio de Alexandria para Roma. Interessante é que Lucas, faz questão de enfatizar o nome do navio em que terminam a viagem: “castor e pólux”, divindades gregas dos mares. Penso que houve certa ironia e bom humor em Lucas e Paulo ao relatarem esse fato, pois sabiam que o Verdadeiro Deus dos mares era o Senhor Jesus Cristo, Aquele que esteve guardando-os em todo o percurso. Hoje também vemos louvores e honras sendo dadas a deuses. Deus perdoando a ignorância de muitos, continua fazendo Sua maravilhosa obra de salvação em terra ou nos mares.
Aqui aprendemos que existem muitas maneiras de naufragar, afundar o navio, mas que existe uma única maneira de sermos salvos na tempestades da vida e manter a paz em tempos difíceis. Em Roma, apóstolo Paulo ficou como prisioneiro, morando em casa alugada por dois anos. Preso pelo braço direito de dia, e pelo esquerdo à noite e ainda assim trabalhando diariamente para o Reino de Deus. Como resultado desse período na vida de Paulo, temos epístolas ministeriais inspiradas que revelam de forma única conhecimento e intimidade com Jesus. As tempestades tornaram Paulo ainda mais forte e não é assim que deve ser para com os filhos de Deus? Ao som das tempestades, testemunhamos ao mundo sobre o amor de Jesus e os frutos da fé Neste Nome que está sobre todos os nomes.
Paulo, Lucas e tripulação partiram com destino a Roma e apesar de todos incidentes e acidentes de viagem, chegaram lá. Nós podemos enfrentar tribulações ou mesmo errarmos em algumas escolhas, mas se estamos com Deus, aquilo que Ele prometeu Ele cumpre. Hebreus 12:12,13 diz: “Portanto, fortaleçam as mãos enfraquecidas e os joelhos vacilantes, façam caminhos retos, para fortalecer os que mancam, para que não se percam”. As tempestades têm esse propósito de nos preparar para novas jornadas de modo a crescermos e testemunharmos sobre a vida.
Aos que caíram pela força do vento, o verso de Hebreus convida a se pôr novamente de pé, pelo louvor e oração a Deus. Com a viagem de Paulo pelo mar, vimos que o sofrimento foi intenso, mas que todos chegaram salvos na ilha: agarrados em tábuas, em bóias, em plantas, cansados, feridos, mas chegaram. É verdade, haverá situações em que a morte é inevitável. Filhos de Deus morrem em acidentes de carro, avião ou navio, morrem em tempestades tantas que é impossível enumerar todas elas. Mas enquanto houver vida estamos sujeitos a atravessar esse mar que Paulo atravessou e quando isso acontecer, estejamos prontos para não abandonar a fé e a comunhão, sabendo que Deus está nos guardando para glorificar Seu nome.
Deus nos abençoe.